Um quarto dos trabalhadores
sofre de depressão pós-férias
Para muitos a volta ao trabalho, mesmo após um mês de
descanso,vem acompanhada de profunda tristeza. É uma
reação natural do corpo, dizem especialistas
descanso,vem acompanhada de profunda tristeza. É uma
reação natural do corpo, dizem especialistas
Onze meses de rotina e correria e um de lazer e descanso: quem trabalha sabe que assim se divide o calendário. O tão esperado – e merecido – mês de férias vem sempre acompanhado de planos. O problema é que, nesse período, o relógio parece acelerar as 24 horas do dia. E logo chegam novos onze meses de labuta. Voltar ao trabalho nem sempre é fácil. Quem nunca teve uma sensação de frustração e tristeza no último dia de férias?
Uma pesquisa realizada pela psicóloga Ana Maria Rossi, do International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), mostra que isso é mais comum do que se imagina. A depressão pós-férias, ou síndrome pós-férias atinge cerca de 23% dos brasileiros ou 5 milhões de pessoas.
Frustrações pessoais levaram Alana a vivenciar uma crise
Há cerca de três meses, a estudante de administração Alana Maia, 23 anos, sentiu na pele os efeitos da depressão pós-férias. Um ano e meio depois de ter entrado na empresa, ela tirou férias e resolveu trocar de emprego. No último dia das férias, Alana conta que sentiu uma tristeza inexplicável, que ela acredita ter sido motivada também pelo medo do desconhecido. “Ainda que o novo emprego fosse para exercer exatamente a mesma função do antigo, sempre fica aquela expectativa do que está por vir, de como será a nova gerência.” Para a estudante, a “depressãozinha” do pós-férias é comum e está ligada a frustrações pessoais. “Nas férias você faz as coisas para si mesmo, dorme tarde, acorda tarde, vai à academia na hora que quer. Quando volta a trabalhar, você dedica seu horário comercial integralmente ao trabalho. Quantas horas sobram para você? Acho que vem um pouco daí.” Apesar disso, Alana garante que a sensação de tristeza não chegou a durar uma semana. “Na volta ao trabalho, a gente fica um pouco perdido até pegar o ritmo de novo. Mas uns dois ou três dias depois já volta tudo ao normal.”
Ir “se arrastando” ao trabalho na primeira semana é natural e nem sempre significa que o funcionário é frustrado ou está desmotivado com a atividade que realiza. A psicóloga Natália Pascon Cognetti, consultora de RH da Admita, explica que, no trabalho, as pessoas estão em estado frequente de alerta e em alto nível de atividade. A cobrança do dia a dia, de acordo com ela, acaba gerando um estresse que, por conta do ritmo de trabalho, pode passar despercebido. “Já nas férias, essa tensão se ameniza. O lazer, ou simplesmente o descanso, nos gera relaxamento e tranquilidade. Assim, o estresse ‘fim de férias’ pode ser compreendido como uma reação natural do corpo que precisa novamente se impor as condições normais do ritmo de trabalho, disciplina e cobranças.”
A psicóloga Daniele Pedrosa Fioravante completa que a volta ao trabalho representa o “fim de um período bom” e, por isso, gera frustração. “A pessoa sai de férias com uma série de planos, mesmo que simples, como fazer uma viagem, ir à academia, e nem sempre são concretizados.” Outro fator negativo do final das férias, segundo Daniele, é a questão financeira, uma vez que é um período em que se gasta mais. “Aí a pessoa volta à rotina e sem dinheiro ainda. É normal que se fique meio desanimado, mas eu não diria uma depressão”, garante.
E quando é preciso ficar alerta com a depressão pós-férias? Conforme Daniele, quando a pessoa gosta do que faz, com o passar dos dias vai retomando a rotina e a tristeza do retorno passa. “Mas quando é um trabalho avesso, a sensação só piora. Não é que é ruim trabalhar, porém, mesmo que a gente goste do que faz, é cansativo. Em situações normais, essas situações de frustração passam nos primeiros dias. Se isso não acontecer, é motivo de alerta.” Nesses casos, a especialista diz acreditar que seja necessário até procurar um novo emprego que proporcione mais realização.
Férias coletivas
Para a psicóloga Natália Cognetti, o sistema de férias coletivas adotado por algumas empresas pode ajudar a minimizar a depressão pós-férias. Quando retornamos de férias individuais, ela explica, estamos em ritmo e momento diferentes dos outros colegas de trabalho. “Até porque, em algumas situações, com o nosso retorno, são eles que desfrutarão do descanso sonhado. Já em recesso/férias coletivas, compartilhamos do mesmo momento, todos têm novidades para contar, Rever os colegas pode, inclusive, tornar a volta motivadora. Se os outros estão vivenciando o mesmo estresse pós-férias que você, compartilhar sentimentos pode ser eficaz para trabalhá-los”, avalia.
Daniele Fioravante concorda com a colega, porém, acredita que em casos de trabalhos que respondem a demandas, nem sempre as férias coletivas são positivas. “Tem trabalhos que são rotineiros, então, as férias coletivas são interessantes. Mas, quando se trabalha com demanda e todo mundo volta ao mesmo tempo, existe mais trabalho para dar conta. Com a carga de trabalho maior e as pessoas em ritmo lento pós-férias, a sensação de tristeza pode aumentar.”
Preparar-se para voltar ao trabalho é tão importante quanto descansar e se esquecer das preocupações durante as férias, defende Natália Cognetti. Ela diz acreditar que a sensação ruim na volta ao trabalho pode ser minimizada com algumas atitudes simples como procurar acordar mais cedo alguns dias antes de iniciar as atividades. “Ir habituando o seu corpo ao mesmo ritmo do trabalho pode ser eficaz nesta adaptação, tanto física quanto psicológica.” Também é imprescindível desvincular-se de computador, e-mail e celular profissional, durante as férias, para que o vínculo possa ser desfeito. “Isso não significa falta de preocupação com o seu trabalho, mas, sim, recarregar as baterias para voltar com a energia ainda mais alta.”
Fonte: jornaldelondrina.com.br
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